Neste 5 de junho, dia do Meio
Ambiente, é importante lembrarmos alguns dados que refletem a difícil situação
mundial em relação ao uso dos 2,5% de água doce disponíveis no planeta. Segundo
relatório da Unesco, órgão da ONU para a educação e responsável pelo Programa
Mundial de Avaliação Hídrica, mais de um sexto da população mundial, ou o
equivalente a 1,1 bilhão de pessoas, não tem acesso ao fornecimento de água
doce.
Dos exíguos 2,5% de água doce
existentes no mundo, porém, apenas 0,4% estão disponíveis em rios, lagos e
aqüíferos subterrâneos – a Terra possui cerca de 1,39 bilhões de km 3 de água,
distribuídos em mares, lagos, rios aqüíferos, gelo, neve e vapor. A situação
tende a piorar, com o desmatamento, a poluição ambiental e as alterações climáticas
dela decorrente: estima-se que será reduzido em um terço o total de água doce
disponível no mundo. Enquanto isso, ações que poderiam reduzir o desperdício
desse líquido cada vez mais raro e, portanto, precioso, demoram a ser tomadas
pelas diferentes esferas governamentais.
Sabe-se que o maior consumo de água
doce é na agricultura, responsável por 69% do uso, e que as grandes metrópoles
têm edificações com sistemas hidrossanitários (bacias e válvulas sanitárias,
torneiras, chuveiros, entre outros) gastadores.
Ações globais e estruturais, como a
irrigação por gotejamento, em vez da usual por aspersão, e o incentivo à
implantação de programas de uso racional da água economizariam milhões de
metros cúbicos, evitando assim a necessidade de novos reservatórios de água,
caros e que prejudicam o meio ambiente, ao derrubar matas ciliares com o
alagamento.
As medidas de incentivo à troca de
equipamentos gastadores por outros, economizadores – como bacias e válvulas que
consomem 6 litros por acionamento, em vez dos 12 ou até mais de 20 litros por
acionamento consumidos pelos equipamentos defasados, a instalação de arejadores
e restritores de vazão em torneiras e chuveiros, entre outros, são instrumentos
bem-sucedidos de diminuição do consumo.
Os equipamentos economizadores estão
disponíveis – e obrigatórios, por norma da ABNT - em nosso país desde 2003.
Programas racionalizadores já foram adotados em Nova York e Austin, nos EUA, e
Cidade do México. Nova York instalou, entre 1994 e 1996, mais de um milhão de
bacias sanitárias economizadoras, com incentivo aos moradores e empresários
para as trocas, e passou a poupar 216 milhões de litros de água por dia.
Enquanto isso, no Brasil temos
campanhas esporádicas para diminuir o consumo de água, rapidamente abandonadas
assim que acaba a eventual seca e os reservatórios estão cheios. Isto foi o que
aconteceu em São Paulo , em 2004, quando os cidadão foram premiados com
desconto de 20% em suas contas de água se atingissem as metas de redução.
Alguns prédios públicos também trocaram suas instalações hidrossanitárias
gastadoras por outras, economizadoras. Há, porém, a necessidade de
implementarmos programas duradouros e permanentes de incentivo à redução do
consumo de água.
A concessionária Sabesp, que atende a
maior parte dos municípios paulistas, por exemplo, desenvolve atualmente um
projeto que custará cerca de R$ 100 milhões para trocar dutos antigos, cuja
deterioração provoca vazamentos e perdas de água estimados em 34% do total
produzido. Embora louvável, a preocupação da concessionária paulista em
diminuir suas perdas e, portanto, aumentar o lucro de seus acionistas, deveria
se traduzir também em ações que beneficiassem o consumidor final e o
contribuinte diretamente, como os programas de uso racional da água e o
incentivo à troca de equipamentos obsoletos por outros, economizadores.
O governo federal, por sua vez,
poderia desenvolver programas de educação e incentivo aos agricultores que
adotassem o método de gotejamento na irrigação, poupando outros essenciais
milhões de metros cúbicos de água. Assim, projetos como o da transposição das
águas do rio São Francisco, com investimento estimado em cerca de R$ 4,5
bilhões pelo governo federal, poderiam ser melhor aproveitados. A implementação
desses programas, de racionalização do uso da água e da irrigação por
gotejamento, resultaria em benefícios econômicos, sociais e ambientais para a
sociedade como um todo.
Autor: Carlos Lemos
da Costa
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