Bimba e a Capoeira
Manoel começou a treinar capoeira aos 12 anos na Estrada dos Boiadeiros no bairro da Liberdade, e seu primeiro mestre foi o africano Bentinho capitão da Companhia de Navegação Baiana. Em 1918, Bimba começou a dar aulas.
Acreditando que a capoeira tinha que se renovar para não se perder, Bimba desenvolveu um novo estilo de capoeira, com método de ensino próprio e rituais como Batizado, Formatura e Especialização. Assim, em 1929, foi criada a luta regional baiana, conhecida mais tarde como Capoeira Regional.
Sua primeira academia foi fundada no início da década de 30, sendo expedido o alvará de funcionamento em 1937, o primeiro alvará para uma academia de capoeira. E em 1946 foi feita a primeira apresentação de capoeira.
Em 1953, Mestre Bimba se apresentou para o então presidente Getúlio Vargas, que declarou ser a capoeira o único esporte verdadeiramente nacional.
Sem ter apoio e o merecido reconhecimento na Bahia, o mestre mudou-se para Goiás, em busca de novas oportunidades, mas suas expectativas não foram realizadas e, em fevereiro de 1974, mestre Bimba faleceu após sofrer um derrame cerebral.
Em um reconhecimento póstumo, em 12 de Junho de 1996, a Universidade Federal da Bahia, concedeu, por unanimidade o título de Doutor Honoris Causa a Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba.
A CAPOEIRA REGIONAL BAIANA - PASSADO E PRESENTE
Manoel dos Reis Machado, nasceu em 23 de Novembro de 1899, depois das pesquisas na Freguesia de Brotas, Engenho Velho em Salvador – Bahia.
Filho de Luís Cândido Machado, batuqueiro e de dona Maria Martinho do Bonfim.
Esse nome de guerra Bimba, surgiu de uma aposta entre a sua mãe e a parteira disse que seria um homem a palavra Bimba origina-se de órgão genital masculino.
Ao longo dos anos o senhor Manuel dos Reis Machado foi carregador e teve outras profissões como “ bico” para sobreviver, sendo que a sua real profissão foi a de mestre de capoeira. Lógico que nesta época era muito difícil sobreviver do oficio da capoeira pois todos os capoeiristas eram marginalizados sem oportunidades e por não ser alvo da manipulação do governo da época a capoeira era vista como uma ameaça a ordem e aos bons costumes. Apenas um delegado “calça curta” Pedro de Araújo Gordilho “ Pedrito” que era o maior perseguidor de todos os capoeiristas tiveram resistência, souberam disfarçar a nobre arte escondendo-a no folclore, nos terreiros de candomblé, a capoeira, nessa época fica cada vez mais escassas a repressão, tira aos poucos sua espontaneidade, sua essência. Os mestres de capoeira antigos continuam resistindo, mas é inevitável que esta capoeira antiga que tinha no máximo 10 golpes e pouca conservação na sua originalidade ou essência. Faltava o grito de liberdade que a capoeira esperava de todos os mestres da capoeira antigas e até mesmo dos “pseudo angola”, mas não foi desta vez que os negros iriam se unir para fortalecer e lembrar dos nossos ancestrais da nossa verdadeira história cultural. A capoeira antiga perdeu um pouco sua força de união, então mais uma vez ainda não era o momento. Com isso foram surgindo as mudanças inevitáveis com o aparecimento da LUTA REGIONAL BAIANA que subiu no ringue mostrando sua forma eficiente de lutar a capoeira, sendo então desenvolvida por Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba) conhecedor do batuque antiga luta de negros e também conhecedor da capoeira antiga com esta junção denominou-se LUTA REGIONAL BAIANA, isto, na década de 20, para ser mais preciso 1928, com isso o grande mestre Bimba tornou-se o rei da capoeira e da Capoeiragem Baiana, como tinha grande espírito de mudança e com inteligência apurada introduziu golpes de outras lutas marciais na sua luta regional baiana, isto aconteceu ao longo dos anos ou até mesmo a cada 10 anos essas mudanças eram freqüentes, Mestre Bimba retirava alguns golpes que achava que não mais era eficiente, muitos movimentos e golpes ficaram em desuso.
Se a capoeira antiga primava pelos movimentos harmônicos, leves e procurando buscar a malícia, a destreza, a sagacidade e num momento de descuido ou do erro do seu companheiro vinha o ataque mostrando sua força.
Já na LUTA REGIONAL BAIANA primava pela definição dos golpes usado as táticas do seu movimentos e golpes rápidos para finalizar seus adversários.
Em 1932, Mestre Bimba fundou a primeira academia, no clube União em apuros, situado á rua do Bângala, ensinou também na Roça do Lôbo, espaço utilizado mais tarde para os cursos de especialização dos alunos já formados pelo Mestre Bimba.
Em 1937, Mestre Bimba registra sua academia na Secretaria de Educação Saúde e Assistência Pública, ensinando capoeira também no CPOR, algum tempo depois com a ajuda de amigos e discípulos inaugurou sua segunda academia no ano de 1942 situada á Rua das Laranjeiras, 01 – Pelourinho sendo que este foi o espaço mais importante da sua vida, por estar localizado no centro da cidade e próximo a Faculdade de Medicina onde inclusive possuía vários alunos da própria faculdade e também estudantes de outras áreas, mantida até hoje aberta, conservado toda sua originalidade.
Todos os contatos do Mestre Bimba eram realizados sempre através do Dr. Decânio que organizava tudo, desde o aluguel do espaço no antigo Maciel de cima até sua transferência para a Rua das Laranjeiras, esta rua era bem mais tranqüila.
Dr. Decânio inclusive foi uma das pessoas mais importante para o Mestre Bimba, pois além de ajudá-lo era um bom discípulo.
A Luta Regional Baiana só realmente ganhou notoriedade devido ao empenho do Dr. Decânio na época doMestre Bimba, do seu apoio e de influência nos contatos na Cidade do Salvador.
Este mesmo espaço, continua tendo com proprietária do imóvel a Venerável Ordem Terceira de São Domingos de Gusmão. Na época em que esteve á frente do Centro de Cultura Física Regional, Mestre Bimba teve a oportunidade de conhecer diversas autoridades e empresários ligados á Bahia.
Em 23 de julho de 1953, o então Presidente da República Getúlio Vargas teve oportunidade de assistir no Palácio, a uma exibição de capoeiristas, nesta época o governo estava sob o comando do então governador da Bahia, Dr. Régis Pacheco. Após esta data houve a legalização.
Sabia-se que havia interesses por trás do governo para que a capoeira fosse legalizada, como disse Getúlio Vargas ela viria a ser o único esporte genuinamente nacional, com isto o governo se popularizou deixando claro que governava para os pobres.
No ano de 1955, ingressa para o Centro de Cultura Física Regional, o senhor José Carlos Andrade Bittencourt , mas tarde por sugestão do Mestre Bimba passou a ser chamado Vermelho, fez todas as etapas do curso com Mestre Bimba, formando-se em 1956, sendo definitivamente conhecido como Vermelho de Mestre Bimba. Sem dúvida assim como Vermelho e outros discípulos do Mestre Bimba após fazer o curso não freqüentava muito o Centro de Cultura Física Regional, indo somente de vez em quando para rever os amigos e beber algumas (BH) cervejas, e em época de formatura para beber a “mulher barbada” do mestre Bimba.
Já na década de 60, as dificuldades para Mestre Bimba começaram a ficar mais visível, pois ele já não possuía a mesma força do seu auge, mas contava com alguns alunos novos que iam ingressando aos poucos no Centro de Cultura Física. Assim, o mestre e rei da capoeira ia tocando sua vida.
Em 1968, foi realizado na cidade do Rio de Janeiro o II simpósio Brasileiro de Capoeira, nesta mesma época Mestre Bimba comemorava seus 40 anos de Luta Regional Baiana, foi um simpósio marcado por contradições com vários objetivos de definir tudo ou quase tudo sobre cada mestre, suas tradições e origens, mas o Mestre Bimba não ficou para ver o fim da festa, citando esta frase na minha Regional mando eu, pois “quem não toma conta de si o diabo toma”, por outro lado essa unificação da capoeira juntamente com todos os seus aspectos culturais não estavam nos planos do Mestre Bimba. Não podemos esquecer que tudo já estava aí há muito tempo, os balões, os golpes ligados e outros mestres de capoeira também aplicava-os, mas o Mestre Bimba o desenvolveu para sua Luta Regional Baiana, sem dúvida este seminário estaria propondo mudanças ou evolução da capoeira para que ela se transformasse, hoje percebemos que a coisa tomou outras proporções.
Mestre Vermelho, aluno do Mestre Bimba realizou a ultima apresentação na Refinaria em Madre de Deus Mataripe) local onde ele trabalhava, foi a ultima exibição que se chamou “Despedida do adeus” em que o mestre ganhou uma quantia em dinheiro , o que servia para ajudar nas despesas com sua família.
Já velho, cansado e sem ajuda dos poderes públicos o mestre dos mestres e rei da capoeira procurava lutar pela sobrevivência de sua família e sua também.
Mestre Bimba foi um educador na arte da capoeira, e sua fama correu solta também dentro da Faculdade de Medicina, onde tinha muitos alunos, inclusive alguns sabiam de todas a dificuldades enfrentadas pelo mestre, mas muitos não tinham coragem de ir treinar nem levar alunos para o Centro de Cultura Física por ser um lugar reconhecidamente habitado por pessoas de baixa renda, viciados em drogas, prostitutas, enfim o que havia de pior no local, poucos discípulos se arriscavam a freqüentar um local como era o Pelourinho antes, daí o Mestre Bimba iniciou uma peregrinação para que aquele espaço que era muito valioso encontrasse uma pessoa que desse continuidade em ensinar a Capoeira Regional Baiana, oferecendo o ponto a quase todos os seus discípulos, que ali estavam e sabiam das suas dificuldades, muitos não quiseram por ser um local de marginalidade, ninguém queria ser visto saindo daquele lugar, então chegou a vez do Mestre Vermelho funcionário da Petrobrás onde trabalhava na função de operador de processo aceitar a empreitada, desafio aceito Mestre Vermelho continuou ali ensinando a luta regional, isto em 1973.
O sonho não acabou, e o antigo nome permaneceu no antigo espaço com a mesma placa pois era desejo do Mestre Bimba, mas até que ponto todos os discípulos dos grandes mestres de capoeira sabiam o real valor cultural que seus mestres estavam representando na época. Acreditamos que nenhuma pessoa imaginara as dimensões que a capoeira viria a tomar, entendemos que Mestre Bimba segurou no sonho que ia mudar para Goiânia /Go através de seu aluno Oswaldo que o levou fazendo muitas promessas mas cumprindo apenas uma retirando o velho mestre da Bahia , nada diferente do que acontece hoje, sendo que hoje os mestres de capoeira estão mais organizados e estruturados contra todos que tentam prostituir esta nobre arte.
Após seu falecimento em Goiânia vitima de um derrame cerebral seguido de parada cardíaca vindo á falecer em 05 de Fevereiro de 1974.
Ao tomar conhecimento da morte de seu Mestre, Vermelho fechou as portas do Centro de Cultura Física Regional por 03 dias, então agora já Mestre, Mestre Vermelho com o fim da ditadura militar e com a abertura para as entidades de bairros e associações serem registradas. Mestre Vermelho, não deixou por menos, como um grande família que era os discípulos do Mestre Bimba resolveu registrar o novo espaço em homenagem ao seu mestre, substituiu o Centro de Cultura Física Regional pelo nome de Associação de Capoeira Mestre Bimba fundada em 02 de Julho de 1975, assim começava seu trabalho de capoeira que aprendeu com o Mestre Bimba.
Vale ressaltar que nem todos os discípulos do Mestre Bimba era completo de sua Regional Baiana, uns só tocavam, outras cantavam e outros só sabiam jogar. É importante que todos saibam que Mestre Bimba não tinha em mente desde o inicio da sua Luta Regional Baiana um plano piloto no sentido de que toda sua tradição fosse perpetuada através dos seus discípulos. Como já sabemos tudo foi fragmentado, quem tinha dom para tocar tocava, para cantar cantava, para discurso em dia de formatura era o orador, foi assim que transcorreu um pouco desta história. Os que visualizaram muito longe o desenvolvimento da capoeira, buscou atualizar seus conhecimentos muito antes.
Mestre Vermelho teve um breve acordo com o Mestre Ezequiel no sentido de que ele pudesse ajudá-lo ensinando capoeira também na casa do seu mestre o que para ele seria uma honra, muito pelo prazer de ensinar resistiu ao temperamento do Mestre Vermelho pouco menos de 01 ano.
De 1975 á 1990 Mestre Vermelho suportou de tudo com o objetivo de não fechar a Associação, já que era muito difícil administrá-la, primeiro ensinar a capoeira do Mestre Bimba, entre seminários, campeonatos, regras e Mestre Vermelho com receio de estar fazendo algo diferente do que foi ensinado pelo Mestre Bimba, guerra entre os ex-discípulos, disputa para saber quem era o melhor etc..., como alguns que já se julgavam o dono da capoeira regional. Conheço vários que prefiro não citar nome nunca houvera sido visto em uma roda de capoeira regional.
Enfim vários foram os mestres que ajudaram Mestre Vermelho entre eles podemos citar: Mestre Vermelho Boxel, Bahia, Boa Gente, Bando, Coringa, Almiro, Manuel, Bamba, Ferro Velho. Estes resistiram a tudo e a todos.
Mestre Vermelho resolveu prestar a si mesmo uma homenagem que antes ninguém nunca havia feito, agora já Mestre Vermelho 27 que ele mesmo acrescentou ao seu nome, pois quando aqui tudo era ruínas ninguém queria se aproximar, hoje que já faz parte da história todos ambicionam estar neste lugar.
Mestre Vermelho 27 nunca foi bem visto na sociedade por ser maluco (no bom sentido) mas enfim foi um aluno do Mestre Bimba.
Não podemos deixar de informar que os restos mortais do Mestre Bimba foram transladados para Salvador em 1978, sendo depositado em 5 de Fevereiro de 1994 no jazigo nº 194 da 3ª. Ordem do Carmo no Centro Histórico de Salvador, nesta data todos alunos presente á Associação de Capoeira Mestre Bimba participou da solenidade. Desejamos que o Mestre Bimba encontre a paz.
Morreu Mestre Bimba morreu, morreu Mestre Vermelho 27, morreu Mestre Ezequiel, mas estamos preservando o antigo Centro de Cultura Física Regional e hoje a Associação de Capoeira Mestre Bimba. Hoje a Associação é presidida por Rubens Costa Silva (Mestre Bamba), sendo a vice-presidente a historiadora Dalva Dias Lima Silva (esposa do Mestre Bamba).
O JOGO DA CAPOEIRA
Para acalmar os ânimos usa-se a racionalidade, deixa-se de lado as diferenças. O momento era de fazer somente as marcações objetivando mais o respeito e a educação esportiva entre os capoeiristas, também usava-se a manha a malicia uma sincronia perfeita no toque da BANGUELA do berimbau.
Em um certo instante o toque da Iúna chegava com ele um formado do Mestre Bimba, era o momento de respeito para com os mais velhos. Era hora de mostrar os balões da cintura desprezada evidenciando o status na turma de bimba.
O mestre Bimba não acreditava em capoeira angola como forma de luta. Para ele era só exibição e assim era seu Bimba, um capoeirista cheio de mistério, que todos os seus adversários descobriria quando ele estava no ringue e os adversários na lona.
ESTE ERA SEU BIMBA!!!!!!
Fonte:
Site da Associação de Capoeira Mestre Bimba